segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Por um fio! (de cabelo)



Exército de Capillus

Nas ondas dos caracóis viajávamos sem medo. No ar sentia-se o cheiro suave do perfume a alfazema e citrinos. 

O êxtase cedo parou, a realidade embateu-me amargamente ao som de um grito grave e seco “Soldados firm!”. Os cem mil soldados do exército de Capillus prontamente se põem em sentido para ouvir mais um discurso carregado, vêm aí novas medidas. Começa o burburinho desesperado entre os soldados: é sempre aos mesmos, não aguentamos mais cortes, o que será de nós!? Vivia-se um clima de tensão e ansiedade, um clima de medo, só se ouvia falar em “cortes profundos e sacrifícios”. Alguns iam tombar e muitos não regressariam inteiros.

O General Queratino surge, todos se calam num silêncio respeitador. Afinal de contas ele é o único sobrevivente de todas as guerras qualquer um de nós se lembra - um estratega nato, um motivador de massas, quem nos guia. Anunciou o que todos temíamos, entidades superiores preparam o maior de todos os cortes e nós – soldados dos flancos, desta vez também íamos ser sacrificados. Fiquei frustrado e com uma extrema sensação de impotência. Ok, a linha da frente é sempre sacrificada, os da retaguarda às vezes conseguem-se safar, os que estão lá em cima, no poleiro, safam-se sempre, claro! Agora os flancos, porra! Depois ainda há outras estirpes, os lisos – la creme de la creme, lá se aguentam por mais tempo, são quase intocáveis; os crespos, coitados, esses estão piores que nós - é cada razia que nem se aguentam em pé. Mas com o mal dos outros, podemos nós…

Onde é que eles iam buscar estas ideias? A revistas francesas? Pelo amor da santa. Isto é um assunto sério. Não se pode andar atrás de modas e tendências. Fiquei bastante preocupado com as boas novas, que de boas nada têm. Chegou a nossa hora, a hora dos flancos darem o corpo ao manifesto. Já dizia o meu pai “um ranger está sempre pronto, porque a sua vontade o impõe e a sua preparação o permite”, não sou ranger ok, mas carreguei comigo este ensinamento. Curioso, porque o General Queratino terminou o seu discurso precisamente com esta frase!

Dispersámos. Cada um para seu lado.

Se não acabou bem, é porque ainda não acabou, pensei. Um guerreiro precisa de estar zen na hora H, afinal de contas, não tinha a certeza se voltaria inteiro para casa. Estava para breve, muito breve! Fui meditar.

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